Autor: Marcus Nakagawa
Tenho lido muitos artigos sobre a morte do ESG, sobre a queda dos investimentos nos fundos ESG e que a BlackRock, a maior empresa de investimentos do mundo, abandonou o acrônimo que apresenta a preocupação com as questões ambientais, sociais e de governança nas empresas.
Para quem não está acompanhando existe um movimento anti ESG que partiu principalmente de alguns fatores como a polarização política nos EUA que “batizou” as três letrinhas como um posicionamento progressista ideológico. O tal do capitalismo “woke”. Colocando que o foco de gerar valor para os acionistas tem que estar totalmente à frente das questões sociais e ambientais, temáticas as quais o governo recolhe os impostos para resolver. Outro fator é que a falta de regulação e de controle fez com que muitas empresas praticassem o greenwashing, ou seja, a mentira “verde” com indicadores não confirmados, com compromissos não implementados e sem evidências técnicas ou científicas. E que muito fundos foram criados com indicadores desenvolvidos sem muitos critérios aprofundados e conhecimentos da área.
A ânsia por uma nova bolha de investimentos como da internet nos anos 2000 fez com que este tema com tantos indicadores parecesse simples e atrativo. A busca pela criação de valor focada em um novo grupo geracional se mostrou atrativa conforme mostram as atuais pesquisas de mercado.
Na verdade, o tsunami que parecia ter a sua crista da onda no investimento foi se colocando como uma constante marola dentro das empresas. Me explico, a grande onda que todos e todas começaram a postar, a se especializar, a montar consultorias, a montar departamentos e a investir é uma constante nas empresas. Assim como as marolas que estão em todas as praias, mesmo sem grandes ondas. Talvez logo mais teremos mais um nome ou uma sigla ou um acrônimo, como vimos esta área sendo chamado de responsabilidade social corporativa, cidadania empresarial, sustentabilidade empresarial, tripé da sustentabilidade, desenvolvimento sustentável, enfim vários conceitos que academicamente são diferentes, mas que no dia a dia da empresa passam pelos indicadores de gestão da governança, dos riscos e impactos sociais e ambientais.
Inclusive o presidente da BlackRock, Larry Fink, agora fala de um investimento verde, de transição para combate às alterações climáticas. E sei que os indicadores de riscos sociais, ambientais e de governança continuam sendo verificados nos investimentos de muitos fundos e bancos.
Esta marola, ou seja, este processo de gestão que acabou sendo inserido em muitas empresas faz parte da história da administração. Já escrevi muitas vezes que logo mais quando estivermos ensinando sobre gestão nas empresas, muitos professores e professoras falarão deste movimento que se transformou em departamentos e processos de trabalho dentro da empresa. Mais do que isso, a “marola” acabou gerando índices de verificação, reputação, performance e bonificação entre os principais executivos.
Segundo a 4ª edição da pesquisa ‘O Perfil do CFO no Brasil’ do Insper e Assetz, cerca de 92% dos CFOs relatam implementação de políticas ESG, sendo que o pilar ambiental foi o mais destacado por executivos. Mostrando que o ESG está perpassando pela “caixa forte” da organização. Outro bom exemplo foi o evento Expert XP, segundo eles “o maior festival de investimentos do mundo” em agosto deste ano em São Paulo, na qual aconteceram muitas mesas de debates e palestras sobre a temática do social, governança e ambiental.
E dentro da pauta ambiental e das mudanças climáticas, a consultoria estratégica Bain & Company reforça o movimento por meio de uma pesquisa que até 2030, os financiamentos de bancos devem atingir US$ 600 bilhões. Outros setores, como o industrial e governos, devem investir US$ 430 bilhões e US$ 350 bilhões, respectivamente.
Entendemos que o crescimento é inevitável e que as empresas estão inserindo a pauta no dia a dia da organização criando departamentos, workshops, planejamentos, cursos, contratando pessoas, enfim fazendo com que o ESG e as suas temáticas sejam gestadas e controladas.
Na história da administração isso aconteceu com a questões de qualidade e ISOs nos anos 80 e 90, com o marketing nos anos 70 e 80, com a internet e a gestão de Ti desde os anos 2000, entre outros movimentos e “departamentarizações” dos vários temas na empresa.
A morte do tsunami pode ser uma realidade, mas a marola dos indicadores do ESG já está no dia a dia das empresas e dos investidores.
* Marcus Nakagawa é doutor em sustentabilidade pela USP; professor da ESPM; coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (CEDS); coordenador do curso Business Sustainability for Leaders na Universidade do Estado de Nova York; idealizador e presidente da Abraps (Associação Brasileira dos Profissionais pelo Desenvolvimento Sustentável); pesquisador do NOSS EACH/USP; e palestrante sobre sustentabilidade, empreendedorismo e estilo de vida. Idealizador da plataforma Dias Mais Sustentáveis. Autor dos livros: Marketing para Ambientes Disruptivos; Administração por Competências; e 101 Dias com Ações Mais Sustentáveis para Mudar o Mundo (Prêmio Jabuti 2019).
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